"Fundo, bem fundo, foi mergulhando sempre até os braços e as pernas se cansarem e se recusarem a mover-se. Sabia que estava a grande profundidade. A pressão nos tímpanos transformara-se em dor e tudo lhe parecia zumbir no interior da cabeça. Enfraqueciam-se-lhe as energias, mas pôde ainda obrigar os braços e as pernas a levá-lo mais fundo. Abandonou-o então a vontade. O ar saiu dos pulmões numa violenta explosão. As bolhas desslizaram e roçaram-lhe pelas faces e pelos olhos como pequeninos balões em seu movimento ascendente. Depois foi uma dor e uma sensação de sufocação. Essa dor não era a morte, foi o penamento que atravessou sua consciência vacilante. A morte não dói. Aquela sensação sufocante e medonha era a vida, a angústia da vida. Era o último golpe que a vida lhe podia infligir."
(Do livro Martin Eden, tradução de Aureliano Sampaio, publicado pela Nova Alexandria.)
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