quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

No jornal (Major Quedinho e Caetano Álvares) - 7 -Toninho

Por cinco décadas, ele cuidou da seção de falecimentos. Não vou compor aqui o perfil de Antônio Carvalho Mendes, tão exemplar nos seus necrológios que é até hoje uma referência. Já falaram dele centenas de vezes, em espaços de prestígio. Vou só lembrar alguns casos curiosos protagonizados por ele. Antônio - cuja função lhe valeu os apelidos de Toninho Araçá e Toninho Boa Morte - orgulhava-se com justiça do seu trabalho e era extremamente zeloso ao colher suas informações (alguém, brincando, poderia dizer que ele tratava da seção de falecimentos como um assunto de vida ou morte). Ele  tinha várias fontes, e o cuidado que tomava o tornava insuperável no seu trabalho. Era comum ele, com o exemplar do dia nas mãos, me dizer: "Hoje eu dei esses furos aqui na Folha" (esses furos eram mortes que o concorrente da Barão de Limeira não noticiara). Citei dois dos apelidos dele e menciono outro, agora. Por uma espécie de temor reverencial misturado com superstição, quando alguém falava dele dava três toques na madeira, para a devida imunização contra a morte (daí ele ser conhecido também como Toninho Toc-Toc). Quem o teve como colega em todos esses anos poderá contar dezenas de histórias. A mais famosa delas talvez seja a de que participou Robert Appy, editor de economia. Não havia celular na época e em certa madrugada era necessária uma comunicação urgente da chefia da redação com ele. Toninho sabia onde ele morava, não era longe do jornal, e prontificou-se a ir lá. Quando Appy abriu a porta e o viu, perguntou, com todos seus "erres" bem franceses: Carrramba, Antônio. Chegou a minha hórrra?" Se Toninho dissesse que sim, provavelmente Appy pediria permissão para levar seu cachimbo, sem o qual ele não era inteiramente Robert Appy.

Nenhum comentário:

Postar um comentário