quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Dedicatória de Pablo Neruda a Matilde Urrutia

                                             "MATILDE URRUTIA

  
   Senhora minha muito amada, grande padecimento tive ao escrever-te estes malchamados sonetos e bastante me doeram e custaram mas a alegria de oferecê-los a ti é maior que uma campina. Ao propô-lo bem sabia que ao costado de cada um, por afeição eletiva e elegância, os poetas de todo tempo alinharam rimas que soaram como prataria, cristal ou canhonaço. Eu, com muita humildade, fiz estes sonetos de madeira, dei-lhes o som desta opaca e pura substância e assim devem alcançar os teus ouvidos. Tu e eu caminhando por bosques e areais, por lagos perdidos, por cinzentas latitudes recolhemos fragmentos de pau-puro, de lenhos submetidos ao vaivém da água e da intempérie. De tais suavíssimos vestígios construí com machado, faca, canivete estes madeirames de amor e edifiquei pequenas casas de catorze tábuas para que nelas vivam teus olhos que adoro e canto. Assim estabelecidas minhas razões de amor te entrego esta centúria: sonetos de madeira que só se levantaram porque lhes deste a vida."

(Do livro Cem sonetos de amor, tradução de Carlos Nejar, publicado pela L&PM.)



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