segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Grandeza

Criou para si
grandes ideais
os maiores

Sua imaginação
tinha o ímpeto
das águias
e a petulância
dos condores

Desprezou os voos
curtos e baixos
e ansiou pelas nuvens
pelo sol
e por beber
na fonte a chuva
antes que ela
se oferecesse
à sede dos outros
homens e dos animais

Imbuiu-se de grandeza
e sentiu que no seu sangue
corria a predestinação
dos feitos inomináveis
e das insuperáveis conquistas

Viveu para esse
destino sonhado
e por cinco décadas
olhou para cima
para o alto
para o ponto
que sua obsessão
criara

Concebeu esse fastígio
e aprazia-lhe pensar
que se ele não o atingisse
nenhum outro homem
jamais o atingiria

Um dia sua soberba
julgou pouco ainda
tudo aquilo
e seus olhos foram tentados
pela voragem do infinito

Começou a sonhar
com a vertigem
de novas alturas
e enquanto sonhava
era conduzido
por um rapaz
de avental azul
e rodando na
cadeira de rodas
pelo jardim
disparava iradas
cusparadas e abominações
sobre as rosas
sobre os lírios
e tudo aquilo
rasteiro e asqueroso
que suas vértebras
travadas o obrigavam
agora a ver
em vez do sol
das nuvens e
daquele ponto
que só ele sabia
onde era

Nenhum comentário:

Postar um comentário