segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Dionisíaca
Agora que seu coração foi morto pelo derradeiro engodo, o homem, enquanto busca na escuridão dos caminhos um lugar onde possa enterrá-lo, já notou que a lua e as estrelas não mais o comovem e que, depois do derradeiro punhado de terra lançado à cova do grande impostor, poderá ser igual a todos aqueles que sempre souberam o que são as mulheres e jamais cometeram o equívoco de considerá-las mais do que algo feito para proporcionar uma passageira e brutal convulsão dos sentidos. Com a pá na mão, ansioso para se livrar do traste, ele se sente agora o animal que sempre deveria ter sido e, em vez de recitar poemas, põe-se a zurrar, a bramir, a relinchar, a balir selvagemente, seguindo os sons que vêm de uma taverna próxima, onde ele adivinha estarem agora três bodes tocando o piano com seus cascos, para que as vacas, as cabras, as éguas e as mulas se entreguem à orgia até que a última gota de sêmen escorra do último macho.
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