sábado, 1 de janeiro de 2011

Nosotros

Quando fala de amor, ele já não sabe muito bem do que fala. Tem certa desconfiança, às vezes certeza de que alguma coisa soa em falso nesses momentos. Sente ainda o alvoroço de cinquenta anos atrás, um tremor nas pernas e uma hesitação de voz que podem ser ainda atribuídos à emoção, e não aos estragos da idade. Começa a falar de amor às jovens e elas o ouvem e parecem entendê-lo, e continuam a ouvi-lo, mas há um instante, o supremo, em que ele, talvez mais enternecido do que deveria estar, ouve, tocado pela memória, o bolero Nosotros. Põe-se a chorar, então. E a ele, e também às jovens, parece que o amor de que ele fala é como certos utensílios caídos em desuso.

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