segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
"Meu diário"
Acordei hoje num estado de espírito que talvez possa definir como depressão morna, ou apatia. Uso aqui essas palavras - depressão, apatia - sem nenhuma convicção nem propósito de que sejam as corretas. Me agradaria dotá-las de uma carga de dramaticidade que conviria à minha preferência antes ao exagero que ao comedimento. Gostaria muito de elevá-las à condição de transtornos ou distúrbios mais graves. Digo tudo isso - ou todo esse nada - para admitir que não me sinto animado a escrever, uma das poucas coisas (talvez a única) nas quais mantenho ainda algum interesse. Percebo que esse gosto pela literatura tende a ir se tornando dia a dia mais passivo (isto é, de leitor) que ativo (de escritor). Vem-me faltando energia para exercer o segundo papel - nem tanto, talvez, pelo transcurso dos dias por si sós e sua influência na minha saúde, mas pela certeza de que qualquer esforço para produzir será um esforço para produzir um pouco mais do mesmo. A obsessão, nas mãos de um artista verdadeiro, é um instrumento inestimável. Nelson Rodrigues e principalmente Dalton Trevisan são exemplos de como a melhor literatura pode ser feita em torno de um só tema. Nas mãos, porém, de alguém que de artista só tem a pretensão, a obsessão acaba desvalorizando seu objeto e tornando-o não mais que maçante. O amor e os sofrimentos causados por ele vão se descolorindo a cada texto, por minha inabilidade. Talvez esse tema esteja mais intenso, mais agudo, mais vivo e mais mortal do que nunca em mim, mas eu me sinto cada vez menos capaz de ser seu intérprete.
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