domingo, 17 de novembro de 2013
A reviravolta
Nos últimos dias (na verdade meses) venho tendo a impressão de que, se não encontrei minha identidade, pelo menos estou a caminho. Digo isso pensando na face que me interessa, a literária. Talvez seja uma palavra exagerada, mas foi ela que me ocorreu e eu a registro aqui: ousadia. Tenho tratado de temas que eu mesmo havia me proibido e sinto-me bem assim, tanto que me pergunto por que não me dispus a fazer isso antes. Não há assunto vedado à literatura e, por mais que a minha formação romântica me puxe ainda as orelhas, pela traição que contra ela cometo, estar livre como me sinto é uma sensação muito boa. Ter setenta e cinco anos me dá quase a segurança de inimputabilidade e, em último caso, sempre poderei recorrer à desculpa da demência senil. Se me calha falar do vício de Onan, falo (sem trocadilhos, por favor); se me dá na telha contar meus sonhos com esplêndidas mulheres nuas, conto e, se tenho uma recaída e me ponho a dissertar sobre estrelas, luas e veleiros, não vejo problema. Ajo agora como um adolescente que confia tudo ao diário e o deixa fora da gaveta. Não acredito que possa escandalizar quem quer que seja. E, se escandalizar, certamente será mais por omissões do que por ações.
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