terça-feira, 25 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (150) -- Nunca mais
O sessentão professor de literatura vinha conseguindo acompanhar o passo rápido da garota e seu único problema, agora, era disciplinar-se para não olhar a todo instante para ela e para sua beleza insuportável. Tentou vários tipos de abstração, pensou em alamedas, árvores e flores, mas essas imagens se recusavam a fixar-se no seu cérebro, no qual fervilhavam palavras como luxúria, umidade, sedução, sexo, e, com receio de que vissem sua vergonhosa excitação, fingiu a si mesmo estar cansado e sem fôlego e, alegrando-se tristemente por sua força de vontade, viu a garota desaparecer ondulante na multidão, ao mesmo tempo em que um velho refrão mais uma vez advertia: nunca mais, nunca mais.
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