sábado, 29 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (161) -- Dezoito anos
Foi só depois de responder agressivamente ao pai e de rejeitar com um empurrão o abraço da mãe que ele pegou sua mala e, esforçando-se para não denotar quanto ela lhe pesava, abriu a porta e saiu do apartamento. No corredor, precisou suportar o afeto do seu poodle, que puxava a mala como se quisesse fazê-lo voltar, mas resistiu até entrar no elevador, quando, vendo-se sozinho, deixou deslizar as lágrimas que vinha retendo. No térreo, cobriu os olhos com as mãos e menteve-se assim ao passar pelo porteiro. Começou a andar a esmo, sem noção do lugar para onde ia, ignorando em qual praça, em qual viaduto dormiria, sabendo apenas que tinha mentido aos pais e não cumpriria a ameaça de ir embora para sempre, mas antegozando o que sua ausência de dois dias, possivelmente três, iria causar e como passariam a respeitá-lo, a ponto talvez de lhe darem até o carro que com tanta persistência vinham negando.
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