terça-feira, 4 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (84) -- Cada minuto
O homem desceu a rua gesticulando e parou no ponto de ônibus. Falava com alguém que só ele via. Perguntava, respondia, argumentava, contradizia. Depois de alguns instantes, ficou claro que ele falava com uma mulher chamada Nara. E em quase todas as frases, ditas com veemência quase febril, ele pronunciava com especial reverência uma palavra: amor. Uma garota disse a outra: "Viu como eu estou certa, sua tonta? O amor serve para isso aí, só para isso. Para enlouquecer uma pessoa." O homem pareceu ter ouvido, porque, gesticulando ainda mais forte e pondo maior fogo nas palavras, disse: "Mas valeu, Nara, não valeu, amor? O quê? Você acha que não, mas valeu. O amor vale sempre, Nara." O ônibus chegou e as pessoas foram subindo. O homem ficou por último e quando entrou, mesmo sob o risco de cair, ainda gesticulava: "Foi tão pouco tempo, Nara, tão pouco, amor. Mas valeu cada minuto, cada segundo. Não adianta dizer que não. Valeu, amor. O amor vale sempre."
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