terça-feira, 11 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (103) -- Desencanto
Quando descobriu, aos poucos, que Dickens submetia a cunhada a olhares cobiçosos, que Dostoiévski vivia preso, ou por dívidas ou por desrespeito às autoridades, que Verlaine e Rimbaud se entretinham, um com o outro, em exercícios nada poéticos, e que Byron fornicava com a irmã, ele se indispôs com a literatura e passou a dedicar-se com maior empenho àquilo que denominava enfaticamente de corretagem sexual e que um amigo advogado, alertando-o sempre para os riscos, chamava de exploração do lenocínio. Manteve respeito unicamente por Emily Dickinson, porque, pelo que sabia, ela (e mesmo isso era só uma hipótese, tão frágil que parecia uma difamação) teria sido tocada apenas, e sem a necessária malícia e habilidade exploratória, por um religioso (pastor ou assemelhado). Mas, por garantia, não quis conhecer mais coisa nenhuma da vida de Emily.
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