domingo, 30 de maio de 2010
Pequenas alegrias urbanas (167) -- O 703
No elevador, uma súbita aflição o levou a pensar que não deveria estar indo à casa da amante num dia no qual, apesar de mínimo, havia o risco de o marido se encontrar ali, mas o invencível desejo de fazer uma surpresa manteve sua coragem, ainda que alguma coisa o advertisse de que o marido podia ser exatamente aquele que subia com ele. Por isso, no sétimo andar, ele deixou a passagem livre para ver se o homem desceria, o que ele efetivamente fez. Só então desceu também e, comportando-se como se fosse um visitante sem noção do apartamento ao qual iria, viu o homem parar na frente do 703, e o julgaria mesmo o marido se ele não tivesse tocado a campainha e se não fosse alto e belo, ao passo que sua amada dizia sempre que o marido era muito baixo e muito feio. Resolveu ir embora e ao chegar ao térreo viu entrar no elevador um homem muito baixo e muito feio e, apesar da tarde de amor frustrada e da descoberta de mais um rival, pensou que no fim das contas talvez seu prejuízo não fosse tão grande.
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