quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
A descoberta
Foi sua alma nobre que o destruiu. Quando, com dez anos, seu processo de descoberta do mundo o levou à certeza de que Beethoven havia eructado, Shakespeare havia urinado e Gandhi havia defecado, enojou-se e desiludiu-se de tal forma que seu caminho a partir dali só poderia ser, e foi, o das camisas de força e dos manicômios. Até ali, estivera resignado com sua sordidez. Saber que todos os homens eram iguais a ele e que, ocultas por filigranas literárias, por sublimes sinfonias e pelos mais puros sentimentos, permaneciam latentes as reles funções corporais, ele rasgou com as unhas tudo que pôde do seu corpo, deu um berro medonho, como se esperaria do animal que era, e mergulhou na loucura.
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