terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Lobo
Minha pele de cordeiro já não me serve. Quando me movo, sinto que o burburinho dos bichos se transforma imediatamente em silêncio. A brisa me trai, o vento me denuncia. Sou lobo, e fedo como lobo. Onde me banho, os peixes morrem com a peste que meu enxofre exala. Banho-me, banho-me, e o meu cheiro não me abandona. Nos meus dentes acumulou-se o sangue de todos os animais que devorei. Sou carniça, agora, todo o meu corpo é carniça, e não olho mais para o céu. Cada vez há mais pássaros sinistros sobre mim. Não posso descansar, não posso dormir, nem à noite. Eles esperam só isso para atacar. A maldição dos cordeiros me atingiu.
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