segunda-feira, 26 de julho de 2010
Lírica (260) - Livre
Como ela previu, não foi muito difícil livrar-se do amor. Bastou-lhe fechar por um mês os ouvidos, os olhos e a alma para ele e para os seus disparatados apelos, e, um dia, quando acordou, lá estava o amor, morto como uma barata num chão de cozinha. Visto de perto, era tão repugnante o aspecto dele, e tão inofensivo lhe parecia agora, que ela se perguntou por que não havia pensado em fazer aquilo muito antes. Podia, enfim, voltar a viver sua vida sem baboseiras e sem contratempos. Pela primeira vez em muito tempo, viu o sol como era, sol apenas, e não a comoveu o canto dos passarinhos. Pegou a agenda e, surpreendentemente, achou que seriam agradáveis todos os compromissos que teria. Sorriu. Estava salva.
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