quarta-feira, 28 de julho de 2010
Lírica (282) - Ulisses
Passava as tardes sentado no terraço, diante do jardim, esperando que os livros, que tanta inquietude e frustração haviam plantado no seu espírito, lhe trouxessem alguma calma. Apesar de haver jurado que nunca mais, de vez em quando ainda se aventurava a ler uma história de amor. Mas, no meio de alguma delas, se a memória ameaçava se alvoroçar e lhe vir com dolorosas lembranças, ele imediatamente fechava o livro, concentrava-se e preparava-se para resistir, ainda mais se o vento, começando a se mexer de modo suspeito, ia sussurrar algo à rosa. Quando isso acontecia, ele exagerava na resistência: cerrava os olhos e tapava os ouvidos, embora - depois de passado o risco - lamentasse não se ter deixado levar pelas insinuações mornas da brisa e não se ter aberto inteiro, como sabia que a rosa fizera.
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