quarta-feira, 28 de julho de 2010
Lírica (280) - As borboletas
Na primeira vez em que a mulher viu as duas borboletas, elas estavam juntas, lado a lado, numa das paredes da sala. Condoída, porque ali não tinham como sobreviver, ela pegou uma folha de papel, conseguiu colocá-las na superfície e, abrindo a porta, sacudiu a folha, esperando que as duas voassem para o jardim. Uma foi para lá, mas a outra se apegou ao papel e só com muito esforço a mulher conseguiu fazê-la desprender-se. Sentiu alívio. Mas, voltando para dentro de casa, dali a alguns minutos a viu no mesmo ponto, na parede. Repetiu a tentativa de resgate, mas, toda vez que imaginava ter restituído a borboleta à companhia da outra e à liberdade, dali a instantes ela reaparecia no mesmo ponto, na sala. A mulher pensou então em algo que porém logo descartou, pela insensatez: ir buscar no jardim a outra borboleta e trazê-la para dentro, onde a primeira estava e, provavelmente, a esperava. Mas, procurando no jardim, não viu borboleta nenhuma e, depois de tentar mais algumas vezes levar a de dentro para fora, esqueceu-se dela. Cinco dias depois, notou uma mancha na parede e, aproximando-se, viu, transformada em pó, confundida com a parede, como se dela fizesse parte, a borboleta. Como tinha ideias românticas, não lhe custou imaginar que, separada da outra, ela havia resolvido morrer por amor.
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