quinta-feira, 29 de julho de 2010
Lírica (286) - Esperança
Da ilha de seu desalento, lembrando-se do que tinha lido em antigos livros, começou a atirar garrafas ao mar. Todo dia lançava uma e esperava. Passaram-se anos e ele não desistia. Certa manhã, ao acordar, viu que chegavam à praia centenas de garrafas. Recolheu-as e, embalado pela esperança, começou a abri-las, frenético. Chegou a noite e, tendo aberto todas, em nenhuma encontrou nada além da mensagem que pusera em cada uma. Respostas não havia. Nessa noite, dormiu um sono de tão profundo cansaço que, quando acordou, já a tarde caminhava para o fim. As garrafas estavam à sua frente e ele pensou em relançá-las todas imediatamente ao mar. Mas isso lhe pareceu tão rude que decidiu retomar o ritual de enviar só uma por dia, como havia feito antes, mas agora pondo no ato uma esperança que imaginou ter faltado na primeira vez.
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