quinta-feira, 22 de julho de 2010
Lírica (241) - O cão
Escolheu um banco bem no centro da praça, onde não poderia deixar de ser visto. Sentou-se. Não precisou concentrar-se, porque estava interpretando o próprio papel. A tristeza o havia marcado tão profundamente que, ele sabia, não precisava fazer nada para realçá-la. Não se exibiu, nem sequer se expôs. Ficou sentado, apenas. Foram três horas, que seriam penosas se ele já não estivesse acostumado àquilo, que fazia semanas vinha sendo sua última esperança. Essa tarde foi um pouco melhor do que as anteriores. Seus olhos atraíram um cachorro necessitado de afeto como ele, porém talvez nem tanto, porque, depois de cheirá-lo e olhá-lo, andou capengando para o outro extremo do parque.
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