sábado, 8 de janeiro de 2011
O assassino
Deve gostar desse seu corpo já ferido por tantos invernos, tão dilacerado pelos médicos e tão devastado pelas perversas desforras do amor. Que outro motivo haveria para ele se deter sempre, com obstinação, quando seu pensamento quer levá-lo para aquela evidência tão clara de que seu sofrimento só se extinguirá quando o coração tiver dado a última batida? Que outra razão haveria para ele desencaminhar as ideias quando elas querem novamente lhe explicar que muitos corpos, como o dele, mesmo achincalhados pelo tempo, se arrastam às vezes até os oitenta, os noventa anos? Por que ele busca rapidamente pensar em outra coisa, qualquer coisa, quando seu cérebro, como um assassino experimentado, depois de lhe sugerir que existem muitos meios de se livrar de um corpo, começa a enumerá-los?
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