sábado, 10 de julho de 2010
Lírica (206) - Escaldado
Sofreu tão funda desilusão de amor que anda de cabeça baixa e teme todos os olhos azuis, e as vozes roucas, e os cabelos pelos quais correram a chuva ou os pingos do chuveiro, e as batidas de saltos altos nas calçadas, e os nomes de mulher, lidos ou ouvidos, e estremece no elevador se nele entra um perfume feminino, e à noite, refugiado no apartamento, receia que a campainha toque, ou o telefone, e treme, e pede a Deus que o livre dos sonhos, mas, apesar de todas essas cautelas, pressente que virá um dia no qual ele outra vez será tentado por alguém que terá um nome ao qual ele imediatamente se afeiçoará e a quem implorará, agora já sofredor experiente, que o poupe, que o trate bem, que não se aproveite do seu espírito ingênuo e que não o deixe depois como ele está agora - um homem que sente calafrios quando ouve a palavra amor.
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