quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
No jornal (Major Quedinho) - 34 - Mecenas da farra
Eram irmãos, os revisores Benedito e José Inácio, mas poderiam ser um bom exemplo de antônimos. Não chegavam a ser rivais, nem inimigos, mas, embora trabalhassem na mesma sala e no mesmo horário, não me lembro de tê-los visto compondo a mesma mesa, nem sequer conversando. Benedito Inácio era tranquilo, José Inácio era agitado. Benedito não frequentava a noite, José (seu apelido era Cabelo Duro) não deixava de frequentá-la. José prestou concurso para fiscal de renda, saiu do jornal. Não tivemos notícias dele por muito tempo, até que certa madrugada ele estava nos esperando no Mutamba. "Eu pago tudo", disse, assim que nos viu. Ficamos bebendo umas duas horas, ele pagou tudo, mesmo, e caímos nos tentadores braços da noite: dancings, boates, exibições de strip-tease. E ele continuou fazendo questão de pagar tudo. Suas visitas se tornaram habituais. O número de participantes foi aumentando, e ele pagando, pagando. Na terceira ou na quarta vez, alguém lhe pediu um empréstimo. Isso enfureceu José Inácio. Ele engrossou a voz e resolveu esclarecer as coisas: "Eu não empresto dinheiro, não pago aluguel de ninguém, nem conta de luz e água. É contra os meus princípios. Meu negócio é só bebida, farra e mulher. Não vamos desvirtuar as coisas, está certo?"
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